Mixed feelings



Sabes aquele dia em que tu acordas triste e não sabes porquê? Hoje foi um desses dias.

Hoje acordei sem vontade de viver.
Não queria levantar-me da cama, não via razão para isso acontecer. Não queria falar com ninguém - ainda não quero. Não queria ver ninguém, não queria mexer-me, sentia-me demasiado fraca e inútil para isso. Não tenho vontade de comer, de beber, não tenho vontade de me mexer. Quero só ficar deitada no meu conforto. Só a ver filmes ou séries. É isso que me traz conforto. Sem barulho. Sem sentir movimento à minha volta. Só eu e o meu sossego. Há dias assim, em que quero estar só comigo e em que não faz sentido sair porque dentro do meu quarto estou protegida de tudo o que me traz inquietação. Para ser sincera, este é o sentimento que experimento já há algum tempo. O de querer estar só comigo.Hoje foi um bocadinho mais agravado.

Passei a manhã na cama, não tomei o PA porque já tinha acordado tarde. Bebi água, porque estava mesmo ali na mesinha de cabeceira e não precisava de me esticar muito para chegar a ela. Quando chegou a hora de almoçar, fui fazer o almoço e nem arroz me apetecia fazer. Tinha wraps em casa, aproveitei para serem os hidratos do meu almoço. Estava a tentar fazer uma refeição em condições. Por acaso tinha deixado feijão preto e bifes de frango a descongelar ontem. A salada também estava pronta. Foi só fazer o bife e aquecer o feijão. Colocar tudo dentro do wrap e estava o almoço pronto.Almocei e fiquei bem. Comi uma sobremesa de soja com sabor a baunilha porque não estava sequer para lavar a maçã que tinha planeado comer depois de almoço. Voltei para a cama. Nem a louça lavei. Deite-me a ver um filme. Tinha aulas às 16h e ainda dava tempo. Escusado será dizer  que a minha vontade de ir às aulas era zero. Levantei-me quando o filme acabou e vesti-me para ir às aulas. Quem me conhece sabe que gosto de me vestir bem, mas hoje nem isso eu fiz. Vesti um fato de treino, apanhei o cabelo num rabo de cavalo e fui. Fui porque tinha de ser. Hoje senti que tinha de ser, mas nem sempre é assim. Não prestei atenção nenhuma nas aulas. A minha cabeça estava noutro sítio. Escrevi o que tinha de escrever, mas só tinha vontade de chorar. Senti vómitos de tanta raiva que me estava a dar estar ali sentada naquela cadeira, numa sala fechada. Nem as janelas estavam abertas. Comecei a sufocar, mas até ao final da aula fiquei lá. Voltei pra casa no final da aula e vomitei. Estava com tantos nervos e raiva por ter ido às aulas, que vomitei. Mal cheguei a casa, entrei no meu quarto, vesti o pijama e deitei-me, mais uma vez, a ver um filme. A última refeição que fiz foi o almoço. Depois te ter vomitado, tive uma compulsão. Fui comer o que havia. Não, não foi uma compulsão como das outras vezes. Foi algo mais "leve", passo a expressão. Leve ou não, custa à mesma. Senti-me mal na mesma, ainda mais inútil, mais dispensável, mais sem vontade de viver. Há uns meses atrás, quando sentia esta falta de vontade de viver, eu descia a avenida onde moro e parava numa ponte. Ficava horas a olhar lá para baixo e a pensar como seria se eu "caísse". Alguém sentiria a minha falta? Alguém daria conta que eu não estou em casa? Alguém sentiria um aperto no coração? Das muitas vezes que estive naquela ponte, houve apenas uma em que me sentei na grade. Estive alguns minutos ali a chorar e a pensar qual seria o meu destino. Rapidamente ouvi o meu pai a falar comigo. Palavras sem sentido, mas a única vez que eu o ouvia era quando eu estava naquela ponte. Desci e fui pra casa a chorar, nesse dia. Hoje, já não vou àquela ponte quando este sentimento cai sobre mim. Fico só triste e consigo pensar que amanhã é um novo dia. E que hoje posso não estar a ter o melhor dia do mundo, mas a dor passa. Tudo passa.

Rita 

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