Máquinas de venda automática
Fiz uma pesquisa durante estes dias e fui a diversos locais onde achava que era provável encontrar máquinas de venda automática. Incrivelmente, encontrei pelo menos uma máquina em cada um destes sítios. Já não tão incrivelmente, apercebi-me de que todos os produtos vendidos nestas máquinas têm imenso açúcar. Acreditem quando digo que é imenso.
Há chocolates, há bolachas, há sumos, há refrigerantes, há croissants, lanches mistos, bolinhos, há batatas fritas. Há tudo. Ah, existe água também - ainda que seja reposta de ano a ano quando o stock termina. Reconheço que a variedade ainda é alguma e é aliciante. Para quem sai de uma aula e tem uma fila interminável no bar da escola ou da universidade, é mais que aliciante sair da fila e ir em direção à máquina comprar um snackzinho. Até vai na mão e tudo, não dá muito trabalho. Depois quando se anda na escola, pergunta-se ao amigo "vens comigo ao bar?" porque não se quer ir sozinho. O amigo não quer. O que se faz? Vai-se à máquina e tira-se um chocolatinho, que enche a barriga (na hora) e dá para voltar depressa para a beira dos amigos! Contra mim falo... Esta foi a minha realidade durante alguns anos. Aulas, máquina, aulas, máquina. On repeat.
Um pequeno aparte que faz toda a diferença no quotidiano de um estudante → é possível levar lanche/almoço de casa. Apelo a todos os pais/encarregados de educação que tenham essa preocupação de preparar a comida do educando, porque é meio caminho andado para não precisarem de ir comer o açúcar que a máquina dá. Atenção, também conheço muitos pais que preparam tudo para o menino ou a menina comerem e, tristeza das tristezas, a criança deita a comida fora porque não está para comer um pão com fiambre quando há chocolates na máquina. Qual é o erro aqui? Se os pais mandavam o lanche, mas as crianças iam à maquina na mesma, era porque tinham dinheiro. Para que é que uma criança precisa de dinheiro quando vai para a escola e tem comida na mochila? Mais uma vez faço um apelo para a responsabilidade dos encarregados de educação destas crianças. A criança não sabe o que é o açúcar. Só sabe que é docinho!
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Aqui têm a opinião da nutricionista Isabel Teixeira.
Escolas:
É
obrigatório a presença de máquinas de venda automáticas nas escolas? Não, mas a
verdade é que em algumas escolas estão presentes porque são mais uma fonte de
rendimento. Está errado ser uma fonte de rendimento? Não, desde que cumpram as
regras.
As
escolas têm disponíveis orientações/regras para exploração dos bufetes
escolares e das máquinas de venda desde, pelo menos, o ano 2012. Os bufetes têm
3 principais regras: Alimentos a disponibilizar, como por exemplo
os lacticínios, frutas, pão, água, sumos de fruta naturais, alimentos a
limitar, como por exemplo bolachas, manteiga, chocolates, barritas de
cereais, e alimentos a proibir, como por exemplo salgados,
charcutaria (chouriço, salsicha), molhos, bolas de berlim e refrigerantes.
Estas regras são aplicadas em todas as escolas? Ainda existem falhas, no
entanto, cada vez mais se encontram estabelecimentos de ensino a cumprirem
estas regras. Estas regras dos bufetes são as mesmas aplicadas nas máquinas de
venda automática nas escolas, devem privilegiar os alimentos a promover e não
disponibilizar os restantes. A verdade é que, ainda se verificam falhas, mas
cabe aos profissionais de ensino, auxiliares, colaboradores, encarregados de
educação e aos próprios alunos denunciarem essa situação. Falemos em factos e
números: A saúde depara-se com o paradigma de sobrenutrição,
principalmente nos mais jovens.
- Em Portugal, em média, um
adolescente (idade entre os 10 e os 17 anos) consome por dia 98,9g de
açúcar (aproximadamente, 20 pacotes de 5g de açúcar), quando a
recomendação nacional apresenta como limite 25 a 50g de açúcar/dia
(aproximadamente, 5 a 10 pacotes de 5g de açúcar).
Só
com este valor médio, verificamos que vivemos em estado de alarme porque afeta negativamente
a saúde dos nossos jovens, os futuros adultos. Estas más práticas na
alimentação aumentam o risco de obesidade, colesterol alto, tensão arterial
alta, doenças do aparelho respiratório, cancro do estômago, entre outros
problemas/doenças.
É
com base em valores como este que existem regras que devem ser cumpridas e cabe
a todos nós o dever de denunciar situações que não estão legais.
Bares
dos Hospitais:
Em
2016, saiu um despacho com condições para limitar os produtos alimentares nas
máquinas de venda automática disponíveis nas instituições do Ministério da
Saúde e em relação aos bares onde foram proibidos a venda de produtos com
excesso de sal e açúcar. A verdade é que até esta lei os hospitais viviam em
contracenso com o objetivo do "Ter Saúde", pensemos então. O hospital
é a instituição que cuida da saúde, aqui temos acesso a exames de diagnóstico,
tratamentos e outros serviços tendo como objetivo a prevenção ou o tratamento
de doenças para obtermos saúde. Mas, ao mesmo tempo, enquanto esperávamos pelo
exame ou por visitar um familiar, os portugueses tinham uma oferta alimentar
pouco saudável o que traz menos qualidade de vida e consequentemente menos
saúde. Várias campanhas de prevenção são realizadas, nós profissionais de
nutrição apelamos a uma alimentação saudável tanto na prevenção como no
tratamento de doenças mas depois a instituição principal (Hospital)
disponibilizava o contrário. Mas assim perco o direito de escolha na minha
alimentação? Não, apenas temos que pensar que o hospital cuida da saúde e a
alimentação saudável ajuda a cuidar da saúde. Valerá mesmo a pena esta mudança?
Claro que sim. Falemos em factos e número novamente, quase 60% da população
portuguesa tem obesidade e Portugal apresenta como principais causas de morte
doenças do aparelho circulatório (vulgarmente chamadas de doenças do coração:
AVC, enfarte agudo do miocárdio e doença isquémica do coração). A alimentação e
a prática regular de exercício físico ajudam a prevenir estas doenças. Se
pensarmos na questão financeira o estado paga em média 880 euros por cada dia
de internamento de um doente no sistema nacional de saúde, um valor que quase
nenhum português tem ideia.
Mais
uma vez, concluiu-se que vale a pena investir na promoção de uma alimentação
saudável, vale a pena investir na disponibilização de alimentos saudáveis nas
escolas e nas instituições do ministério da saúde.
Ginásios
e outros locais:
Até
ao momento não têm regulamentação específica, no entanto, alerta-se a
comunidade que os alimentos embalados disponibilizados nestas máquinas, por
norma, apresentam valores de açúcar e gordura (principalmente saturada e trans)
elevados. Esta quantidade elevada de gordura é responsável, por exemplo, por
aumentar os níveis de colesterol LDL (mau colesterol).
Dicas
base para praticar um estilo de vida saudável:
·
Opte
por alimentos mais naturais, menos processados (evite alimentos embalados);
·
Hidrate-se,
faça da água a sua bebida de eleição;
·
Pratique
atividade física, pelo menos, 30 minutos diariamente (exceto quando tem
contra-indicação médica)
Procure um profissional da área da nutrição
para personalizar o seu estilo de vida saudável. Lembre-se que cada pessoa é
única.
Para mais informações:
Rita e Isabel
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