A verdade por detrás de mim

Quem me lê, conhece o meu percurso. Sabe a história que carrego, a forma como fui diagnosticada e como andei de médico em médico. Só não sabe de que forma eu vivo o meu diagnóstico.

Ansiedade, TOC e Depressão
Sabes o que é cada um deles?

A ansiedade é uma emoção normal do ser humano. Quando queremos muito que chegue o fim-de-semana, quando queremos muito ter um carro novo, quando nunca mais chega o dia daquela entrevista de emprego. A ansiedade de que te venho falar hoje é uma ansiedade excessiva. É, resumidamente, uma preocupação e medo extremos em situações simples de rotina. A ansiedade consiste numa resposta do corpo vinda do sistema nervoso que age independentemente do pensamento racional que todos temos. Quando esta resposta acontece, existe uma libertação muito grande de adrenalina, que provoca inúmeros processos: acelera os batimentos cardíacos para o sangue conseguir mais depressa a todos os órgãos, dilata os brônquios para facilitar a respiração, dilata as pupilas, aumenta a libertação de glicose no sangue e também a libertação de cortisol - que provoca, por sua vez, um aumento de gordura no corpo e causa também alguma fadiga.
Alguns sintomas:
  • medo constante;
  • sensação de que algo de mau vai acontecer a toda a hora;
  • nervosismo constante;
  • preocupação exagerada comparativamente à realidade;
  • problemas em adormecer;
  • agitação dos membros superiores e inferiores;
  • aumento de suor;
  • aperto e/ou dor no peito;
  • boca seca;
  • cansaço e sensação de fraqueza.
O TOC - sigla para Transtorno Obsessivo-Compulsivo é um distúrbio psiquiátrico derivado da ansiedade extrema. Quem sofre deste transtorno, experimenta frequentemente pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos e repetitivos. Normalmente, este transtorno consiste numa invasão de imagens e/ou pensamentos ao cérebro da pessoa. Quando esta não consegue tomar o controle da situação, surgem os rituais repetitivos - os conhecidos tiques nervosos - que podem mesmo ocupar o dia todo, comprometendo toda a performance pessoal e profissional da pessoa em questão.

A depressão não é uma variante da ansiedade excessiva. É sim uma extensão da mesma. É muito semelhante à ansiedade em termos de sintomas e causas e trata-se de um desequilíbrio no cérebro. É, muitas das vezes, uma "progressão" da doença. Ou seja, uma ansiedade excessiva passa muito depressa a uma depressão quando não há uma intervenção imediata.
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Depois da lição dada, chega a hora de falar um bocadinho de mim enquanto diagnosticada. 

Eu experimento muitos sintomas e todos eles diariamente. Mais do que uma vez por dia. Estas três condicionantes estão presentes em qualquer coisa que eu faça.
Ao longo dos anos, os sintomas foram aparecendo e piorando de forma gradual e muito rápida. Acabo por experimentar as três condições num só dia e tudo ao mesmo tempo. Pode tornar-se um pouco confuso, mas com a experiência, procura de informação e auto-conhecimento já consigo decifrar o que é que estou a experimentar e quando. Há sintomas que já não tenho, atenção. Há alguns que já desapareceram e de vez! Há outros que perderam a força e aparecem com menos "qualidade" 😂 . E há outros que continuam a dar o ar da sua graça para me dar cabo do juízo.

Pedi a alguns amigos e ao meu namorado que em poucas linhas, me descrevessem. Aquilo que eles vêem quando olham pra mim, quando estão comigo. Seguem-se alguns testemunhos.

"Vejo uma pessoa amiga, que se preocupa com quem gosta! Uma pessoa de sorriso fácil, de dar sorrisos às pessoas... aquela pessoa que quando dois grupos convivem, é quem faz o elo de ligação, porque mesmo que não conheça uma pessoa, convive com ela facilmente. Simpática. Amiga. Não deixa um amigo cair. Coração enorme. Personalidade forte. Apesar de forte, precisa de um pilar seguro e forte com ela, para poder agarrar quando cai. Uma pessoa que cai, mas quando se levanta vem ainda com mais força! Pessoa que demonstra estar bem e super forte! Mas precisa sempre de um miminho, um carinho. Como todos os fortes. Porque uma pessoa forte tem que ter sempre um pilar para se amparar. A Rita."

"Como sabes, não me lembro da minha vida sem ti. Quando estou contigo, vejo uma amiga preocupada com todos e uma guerreira que passou por muito, mas, apesar das probabilidades, deu a volta e uma lição à vida."

"Um grande sorriso, seguido de uma gargalhada contagiante é a imagem de marca da Rita. Aquele brilho nos olhos, a transparência que me põe confortável para ser genuína, porque sei que ela também o é comigo. Resumindo, olho para a Rita e vejo uma vontade imensa de ser feliz com essa verdade."


"Rita, conheço-a desde que me conheço em apesar de cedo a distância nos ter separado penso que a nossa amizade permaneceu intacta. Um misto de ironia e sinceridade, como uma boa amizade deve ser. Uma pessoa extraordinária, simpática, humilde e completamente pura. Nunca em alguma situação senti qualquer tipo de maldade nas suas ações ou intenções. Uma menina incrível que se tornou numa mulher de armas. É realmente um privilégio poder dizer que somos amigos de verdade. Ontem, hoje e para sempre."




Todos eles estão certos em tudo o que dizem. Esta é a Rita. É a Rita quando não tem crises de ansiedade ou de pânico. É a Rita sem compulsões, de bem com a vida e feliz por estar onde está. É a Rita que não está obsessivamente a olhar para todos os pormenores de toda a gente. Se alguém que está comigo - seja no meu grupo de amigos ou não - tem uma camisola de carapuço com cordões e um deles está por dentro da camisola e o outro por fora, viro fogo. A ansiedade e o TOC apoderam-se de mim e ali estou eu a transpirar por todos os lados. Das duas uma: se for alguém no meu grupo de amigos, vou falar e por norma ele/ela compõe os cordões 😏. Se for alguém que esteja fora do meu grupo de amigos, então tenho mesmo que sair do sítio onde estou. É provável iniciar uma crise de ansiedade e por vezes a forma de a evitar é mesmo ir pra casa e fazer algumas respirações, percebendo que o problema já não está ali.

Há inúmeros sintomas que já vos descrevi que facilmente encontram na internet, mas agora vou falar daquilo que eu experimento, na primeira pessoa. 
  • pisar só as riscas brancas ou os quadrados do chão 
Isto acontece-me em raras situações. Em dias em que estou nervosa, mais stressada ou mais ansiosa, dias em que nada parece estar direito à minha volta. Então o controle da minha vida que eu  perdi naquele dia, vou encontrá-lo numa passadeira ou mesmo na rua, quando o chão é formado por quadrados, por exemplo. 
  • carro estacionado dentro das linhas
Este também não é muito frequente. Mas acontece. Especialmente quando estou irritada com o mundo. E sim, já houve um episódio em que o carro estava de tal forma mal estacionado que esperei uns minutos para ver se o dono chegava, mas ao fim desse tempo, decidi mesmo acalmar-me e ir embora. O verdadeiro quem espera desespera.
  • sinal torto na estrada
Oh malta ... Isto mói-me o juízo! Quando vejo um poste torto, antes de pensar o que terá acontecido para ele ficar naquele estado, penso mesmo se existe alguma forma de o voltar a pôr no sítio. Atenção, que não estou a falar dos postes/sinais de estrada que estão quase no chão. Estou a falar daqueles que estão ligeiramente deslocados. Não faz sentido! 🙈
  • letras dos neóns desligadas
Isto causa-me um stress imenso. Quando passo, por exemplo, numa grande superfície tipo o Continente, em que o "N" e o "T" estão sem luz e as outras letras estão com luz. Não estão a perceber o nó que me dá na cabeça. Não só fico super irritada, porque a ordem natural das coisas não é assim, como ainda começo a tentar formar palavras com as letras que têm luz! E se não conseguir pelo menos uma fico cá com uns nervos... Os ansiosos vão perceber  o que significa "nervos" 😆 
  • loiça por lavar
Não consigo. Simplesmente não consigo. Estou a cozinhar e já estou a lavar a loiça que tiver usado. Acabo de comer e a primeira coisa é lavar a loiça. Houve uma noite em que tinha tido aulas, fui ao ginásio, fiz o jantar, comi e estava super cansada. Então pensei lavar a loiça no dia seguinte. Pois, custou-me adormecer mas lá consegui. O problema foi acordar às 3h da matina porque a loiça estava por lavar. É um aperto no peito que sufoca.
  • coisas fora do sítio
Comigo não há meias medidas. Ou está tudo perfeitamente arrumado ou então tudo completamente desarrumado. Não pode haver meio termo. Se o quarto está tão arrumadinho, por que raio é que tens o casaco em cima da cama?! Não faz sentido! Sim, já arrumei o quarto ao meu namorado e a membros da minha família à pala disto. 
  • locais com muita gente
Abafo, começo a pensar nas doenças que podem transmitir, nos suores que andam ali. E se ouço uma pessoa a tossir, é certo que o (meu) caminho é pela porta.   - a pessoa não tem culpa.

Agora vou-vos falar daqueles dois sintomas que realmente me põem fora de mim.
  • a mudança de planos
Se está combinado ir ao café com mais três pessoas (A, B e C), é com A, B e C que me vou sentar a tomar café. Se o D tiver o desplante de pôr lá os pés, a Rita foge porta fora na hora com uma desculpa esfarrapada e tem uma crise de ansiedade. Se combinámos ir às 16h, porque é que só estamos a sair agora que já são 16h20? Ou marcamos hora e vamos mesmo àquela hora ou então decidimos tudo amanhã!
  • (espécie de) fobia social
Eu sou aquela pessoa que não frequenta o Bar da Sónia, o Restaurante do Raúl e o Café do Silvino. Porquê? Porque é precisamente no Bar da Sónia, no Restaurante do Raúl e no Café do Silvino que todos os meus conhecidos param!  Ora, se todas as pessoas que lá estivessem fossem desconhecidas pra mim, teria o maior gosto em entrar. Como o que acontece é o contrário, não chego sequer perto. Pode acontecer num dia em que eu me esqueça do que estou a fazer em que esteja com alguém em quem confie muuuuuuuuuuuuuuuito.

Confesso que este último tópico me faz sofrer muito. Priva-me de estar muitas vezes com os meus amigos, amigos do meu namorado, familiares, pessoas que já não vejo há muito tempo, etc. Porque não é que eu não goste das pessoas! Eu gosto! E consigo estar com elas! Se for com cada uma de forma individual e fora dos estabelecimentos que vos falei. Acredito que os últimos dois tópicos tenham dedinho da minha falta de auto-confiança. 

Resta-me acreditar que um dia isto vai mudar.

Rita 

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